26.9.07

Inês


Conhecer você, no escuro, no toque antes de qualquer coisa, na graça sussurrada com todos os erres.
-capável.
Beijar você, de leve, roçar de lábios apenas, línguas aventureiras depois, sozinhos em meio à multidão.
-crutável.
Ver você, o drinque, a surpresa, o teatro, os cabelos, as pernas em cima da cadeira, a rosa esquecida.
-perada.
Falar com você, escutar você, opiniões, hesitações, afirmações. Sou mooqueiro, brega, absurdo, me diz, entre outras maldades chutadas.
-pecífica.
Preparar comida para você, o nome do queijo e não da rosa, a camiseta, o aconchego e a frase solta no escuro, de repente.
-plicável.
Brigar com você. Você deve ser assim e não deve ser assado. Incertezas. Agressões com luva de carinho.
-timável.
Assistir você. Todo o incrível da alma, do crível da artista, do pousar suave da lente no âmago das pessoas.
-primível.
Mas, em não sendo a vida roteirizada e dirigida por você, quando quer e como quer, fica brava, fala para dentro, sai correndo e nem olha para trás. O amor não vem como você quer, não vem como eu quero. Vem como ele mesmo quer. Isso quando vem. E eu lá, tendo de saber tudo e tudo administrar: da surpresa aos medos, das entregas até a temperatura. Sou incompetente e não sei nada e nem de nada e fico imóvel, perplexo no alto da escada, embaixo da torre, sob o alpendre.
Transformar você em literatura. Prima volta, prima-dona. Pra não ficar parado, mesmo sabendo que podes ler o que não escrevi, intuir maldades nas entrelinhas inexistentes, dizer que não sou escritor, afirmar que traduzo mal, que falo demais e alto demais, murmurar que não quer saber, que não tem tempo a perder e, decerto, precisa ir achar a chave que você mesma escondeu.
Ainda não sei direito quem me aconteceu.
Inês-