26.9.07

Sábado Perfeito


Imagine um sábado de manhã. E já que estamos imaginando, vamos imaginar que é um sábado de sol, no outono, quando o céu tem aquele azul mais fundo, mais do que o normal no resto do ano. O programa é sair lá pelas nove e pouco da manhã e ir para o centro. Chegar ao redor das dez, parar o carro na Rua Santo Antonio e caminhar até a Praça João Mendes. É lá que está o Sebo do Messias. É sempre bom ir ao Messias. Afora o gosto de fuçar nas estantes e ver livros e mais livros, sempre se acha alguma coisa. Por cerca de meia hora. Às vezes de posse de verdadeiros tesouros, caminhamos do centro velho ao centro novo, cruzando o Viaduto Sta. Efigênia, e entramos na rua do mesmo nome. Não sei vocês, mas a minha experiência de procurar alguma coisa nessa rua é assim: no número 100 dizem que não tem o que você está procurando, mas que no número 165 tem. Lá por sua vez, dizem que no 259 tem com certeza. E assim por diante. Sempre achei que isso era combinado no clube dos lojistas para fazer com que todo mundo percorresse a rua inteira. Eu gosto da Rua Sta. Efigênia e seus milhares de badulaques eletrônicos, mas hoje nosso programa é outro.
O negócio é chegar no Bar do Léo no máximo às dez para as onze. É a última chance de pegar uma mesinha. É um bar singular esse. Pequeno, localizado na Rua Aurora, vizinho a uma área decadente da cidade (a cracolândia), fica absurdamente lotado aos sábados e se é servido em pé na calçada freqüentemente. Todo mundo concorda que tem o melhor chope da cidade (colarinho de exatos três dedos, nem mais, nem menos), mas, o que poucos dizem, é que tem disparado o melhor bolinho de bacalhau da cidade. Já fui até lá no fundo ver como é feito. Ao redor de um tacho com a massa do bolinho, duas mulheres enrolam um a um com a mão. Parece um charuto, só que gordo no meio e com as pontas fininhas. Charuto de desenho animado, digamos. É enorme, talvez uns 15 centímetros. É bolinho de bacalhau para ninguém botar defeito. Pra lá de delicioso. Agora, veja a perversão: só sai aos sábados e às quartas um pouco depois das onze da manhã e acaba ao redor das quatro da tarde. As porções são de seis bolinhos. Sugiro comer com a pimenta da casa que é saborosíssima. É bem verdade que são caros, mas por outro lado não têm preço. O Bar do Léo tem também petiscos incríveis, entre eles um de beef tartar. Bem, nem meia hora depois, já não há sombra de mesa e as pessoas começam a se juntar na calçada. O chope não pára, os garçons não esperam que ninguém os peça, vão trazendo um atrás do outro e empilhando as bolachas. É assim, desse jeito tradicional, hoje quase desaparecido, que se faz a contabilidade. Eu não acredito em astrologia, mas nesses sábados meu ascendente é em Léo.
Dali, o programa continua com a volta a pé para o carro, digerindo os chopes e os bolinhos, e rumar para o Jardim Marajoara, onde está localizada a famosa Sauna Finlândia. É uma sauna como antigamente, como deviam ser as termas da Roma antiga. Em um prédio com três andares, senhores gordos e outros não tão gordos, andam para baixo e para cima, entre as duas saunas secas e a sauna a vapor. Curtem a massagem com hora marcada, a ducha escocesa, a piscina, a vassourinha dentro da sauna seca – não me perguntem como é uma ‘vassourinha’, quem sabe, sabe, e quem não sabe que vá lá descobrir –, e um bar com as boas cervejas tradicionais. Todo o estresse, a tensão, os dissabores e o trânsito da semana inteira saem pelos poros. Sai-se dali com as pontas dos dedos enrugadas e pronto para outra.
A outra, no caso desse sábado perfeito, é ir ao Lo Spuntino no Planalto Paulista. É um bar de bairro com cervejas do Brasil e do mundo inteiro. Que eu saiba, eles são os únicos a servir uma cerveja de Mato-Grosso que, na minha modesta opinião, é a única do Brasil que é páreo para a Guinness. A Bugrinha. Uma cerveja preta absolutamente perfeita. Pode ser acompanhada por porções de bolinhas de queijo muito bem feitas. Ali, em uma mesinha na calçada, as horas passam despercebidas e o papo rola solto.
Daí é voltar para casa e quem sabe, se sobrar disposição, coroar o sábado indo comer a pizza da casa, aquela com mussarela e calabresa fatiada. Na Pizzaria Castelões, é claro.