26.9.07

Perdido no Espaço


Cena 1.
Ligo a TV. Na tela branca e preta do meu Philco espacial, o Randal Juliano apresenta “Os Astros do Disco”. Carão sorridente, Ciro Monteiro batuca uma caixinha de fósforos enquanto uma voz ao fundo diz: existem coisas que estão Além da Imaginação.

Cena 2.
Durval de Souza e Idalina de Oliveira fazem um comercial da Ducal, e eu corro para casa. Não tem mais aula hoje, o presidente Kennedy foi assassinado. Faço uma misturinha de açúcar e Nescau e sento na cadeira de madeira da Casa Alemã, pés apoiados na parede. Olho na tela confinada embaixo da escada.

Cena 3.
Família Trapo com minha família. Queria ver ao vivo no Teatro Record. Papai preferia sempre ficar em casa lendo. Sócrates diferentes. Sérgio Ricardo joga o violão na platéia e dessa viola explode a Copa do Mundo em todas as cores. Alegria, Alegria. A Feiticeira não se lembra mais de mim, mas eu me lembro dela. Alô, doçura.

Cena 4.
Retrato três por quatro. Aí cinco. Terroristas arrependidos. Mataram o Boilesen. Mataram o Marighella. O Geisel olha para mim e diz: “Ba’ noite”.

Cena 5.
Estou caseiro, estou casado. Agora assisto novela, aquela. A espiral anuncia: O Astro. Herculano Quintanilha, nosso primeiro Lair Ribeiro.

Cena 6.
As imagens se acumulam, se misturam e multiplicam. Pizza de domingo e tiroteio ao vivo no Fantástico. Conde Bóris às sete em ponto. Dei aula de inglês para a Lílian que trabalhava na Gazeta Mercantil e agora é o último rosto que vejo antes de adormecer e sonhar. Meus olhos olham para ela. A tela. Penso: Esta é a Sua Vida.

Corta.