26.9.07

Rio


Desci. Vendo de cima notei a grande quantidade de piscinas em uma cidade a beira-mar. Quanto mais perto da orla, mais piscinas. Desci no Santos Dumont, um aeroporto tropical: despojado, arejado e com linhas simples.
Muito verde, muito azul, muito céu, muito ar e muito mar. Arquitetura e largueza de espaços. É bom voltar aí. Depois da avenida, as ruas. O bairro do Rio em que me hospedo é plano, as pessoas andam a pé e todos parecem à vontade. Está mais para Manhattan do que São Paulo jamais estará. Pois é, durma-se paulistanamente com um barulho desses. Mas é fato. Pode-se sair para andar a pé sem medo de ladeiras, de falta de sentido no planejamento das ruas, de buracos nas calçadas. É uma grade com poucas variações, mas com muitas cores. Vai-se pela praia e pode-se voltar por uma rua de dentro. Os bairros entre o Leme e o Leblon sucedem-se com fronteiras claras e inconfundíveis, cada qual com sua personalidade e seu ar próprio. Como Nova York, temos quitandas com frutas à mostra, lojas pequenas e chiques, supermercados no meio do quarteirão, bancas de jornal, prédios pequenos de quatro andares com árvores e jardins na frente. Nenhuma placa de “aluga-se” ou “vende-se”. Quem seria louco de alugar ou vender seu quinhão do paraíso, a poucos quarteirões das praias mais lindas do planeta, com gente simpática e relaxada para se conviver? O nome das lojas possui aquele humor que só os cariocas têm: “Patifaria”, “Linha D’Água”, “Pontapé”, “Pano Profano” e por aí vai. Uma delícia.
O pãozinho é maior que o de São Paulo, a média também. O quanto se fala da cultura do corpo no Rio, não é bem assim. Mais que Apolos e Afrodites, não que não existam, os cariocas estão de bem com o próprio corpo. Ninguém encolhe a barriga ou procura esconder seus defeitos. Todos se expõem com o prazer de poder desfrutar com pouca roupa o evidente paraíso sobre a terra em que habitam. Não estão preocupados com isso, esta a verdade. Deve ser isso que nos cariocas incomoda os paulistas, sempre escondidos atrás de grifes e bem-vestires, poses e ares.
Há nomes que só vejo no Rio, Saldanha, Gama, Belfort. Devem ser nacionais. Como capital do Império e da República talvez estes nomes se destaquem mais. Talvez isso explique o grande número de generais que são nome de rua, neste país onde sempre se deu demasiada importância à essa patente. São Paulo é mais provinciana. Seus nomes de rua talvez sejam uma expressão disso, dessa idéia exagerada de si mesmas que só as províncias se dão, inda mais a mais rica, com veleidades de querer mandar no resto.